sábado, 22 de agosto de 2020

22/08 - Dia do(a) Educador(a) Especial

 22 de abril - Dia do Educador(a) Especial


Sim, ainda existimos!


As datas comemorativas são convenções sociais, de natureza cultural, política ou econômica.

Criadas para homenagem, informações, visibilidade, com objetivos de conscientização ou diálogo com a sociedade.

Dentre as datas comemorativas temos os dias destinados a dar visibilidade a segmentos profissionais.

Questiono a necessidade de estipularmos datas para se produzir reflexão. Seria uma chamada de atenção? Um "Hei, olhe"? Se tal tema precisa de uma parada e uma chamada de atenção, será que diariamente tem tido atenção? Como estão sendo produzidos, construídos, investidos e valorizados esses espaços  que precisam ainda de um dia de atenção? Talvez, me sentisse mais valorizada se não precisasse mais de um dia para "minha homenagem"?!

Temos até lei que regulamenta a criação de "Datas Comemorativas" - Lei Nº 12.345 de 9 de dezembro de 2010. Ou seja, uma data comemorativa precisa ter “alta significação para os diferentes segmentos profissionais, políticos, religiosos, culturais e/ou étnicos que compõem a sociedade”.

Então, tivemos o 21 de Março, da Síndrome de down, o 02 de Abril, do Autismo, o dia 26 de junho, o Dia Mundial das pessoas Surdocegas. Temos a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, de 21 a 28 de agosto. Hoje, 22 de agosto, Dia do(a) Educador(a) Especial. No dia 26 de setembro, o Dia Nacional do Surdo e no dia 03 de dezembro o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

Estamos bem homenageados, em número de "Datas Comemorativas" mas, como estamos produzindo,  construíndo nossos espaços sociais?

Educador(a) Especial é aquele(a) profissional que se produz professor(a) de Educação Especial, para aquela parcela da população descrita como deficiente. Não pretendo, neste momento,  refletir sobre "padrões de deficiência", criados/produzidos socialmente ou descritos/ identificados por CIDs.

A função "professor" já está amplamente descrita, comumente conhecida por todos mas, que tem ganhado novas atribuições/ responsabilidades dia após dia. 

Sinto-me autorizada, pelos mais de 15 anos de atuação, a lançar algumas reflexões sobre ser e estar Educadora Especial.

- Não tenho um dom divino, muito menos realizo milagres. Me constituo de estudos, muitos, cada vez maiores, sobre as mais diferentes áreas da ciência.

- Sou professora de educação especial. Minha faculdade consiste em uma licenciatura, tive, tenho e terei sempre o chão da sala de aula como referência.

- Não pago as contas com amor ou carinho apesar, de sentir grandes sentimentos pela minha profissão, preciso e luto por valorização salarial.

- Não sei tudo. Sou sujeito inacabado. Porém, não tenho culpa das frustrações de colegas professores e/ ou de familiares pelo rendimento de meus alunos. Faço o possível e o impossível me dêem mais 5 minutos, kkkk...

- O resultados são dependentes do engajamento familiar, da oferta de outros atendimentos e do desejo de uma escola, verdadeiramente, inclusiva.

- Tenho um vasto currículo mas, que se apequena sempre, com a chegada de um caso novo. Acreditando, na singularidade do sujeito, me reciclo a cada novo aluno.

- Sim, estive em muitos lugares e estarei em sabe-se lá quantos outros. Em cada lugar, um leque de experiencias boas e nem tão boas assim mas, que me fizeram ser o que sou hoje. Plantei sementes, que não vi germinar, outras que dão frutos mesmo após a partida.

- Tive conquistas e derrotas! Mas, estou em pé! Para alegria de alguns e tristeza de outros. Nem sempre foi fácil mas, quem disse que seria? Nem sempre tive apoio, nem sempre estive certa e quando estive, nem sempre me compreenderam. Sofri perseguição, assédio moral e sabe-se lá quantas outras violências. Não é fácil defender o óbvio! Já tomei pau, já limpei vômito e bunda, já fiquei de luto. Ou abraça ou cai fora!

- Não tive e não tenho medo de recomeçar. Pois, foi sempre assim... um eterno recomeçar! Mas, ainda sinto aquele frio na barriga a cada novo projeto, como se fosse o primeiro. E, digo-lhes, é sempre como se fosse o primeiro! Penso, Planejo e executo com o mesmo comprometimento pois, meu "cliente" é gente e gente não merece menos que o máximo! Sei que tudo o que eu fizer vai ser determinante para na vida de alguém.

- Tenho preferências, tenho ideologias, tenho crenças mas, acima de tudo, tenho fé! Não espere de mim neutralidade, muito menos omissões. Tarefa dada é tarefa cumprida!

- Sim, passei por todos os lugares... escola especial, coordenação pedagógica, implementação de sala de recursos, equoterapia, tutoria de ensino à distância (formação de professores), de novo implementação de sala de recursos, implementação de centro de apoio, de novo coordenação pedagógica, sala de recursos multifuncional, de novo implementação de sala de recursos. Não, eu não tenho 100 anos, kkkk...

- Já fui tachada de "poderosa", que "opera milagres", "que se acha", motivos de "pauta da rádio corredor", "encrenqueira", "polêmica", " radical", "bocuda", "insubordinada" e outros tantos adjetivos empregados.

Somos aquelas que estão em universidades, escolas comuns - salas de recursos, escolas especiais, centros de apoios, clínicas, equoterapias, cinotetapias, classes hospitalares, brinquedotecas,  etc. Somos aquelas que ainda acreditam que é possível um mundo mais humano, numa escola que consiga acolher e num ser humano que consiga minimamente respeitar o outro.

Muitas vezes, nossa presença desacomoda, incomoda, perturba e, assim como nossos alunos, também acabamos excluídas dentro da escola. Ocupamos o lugar de culpa, facilmente somos responsabilizadas pelo fracasso de um sistema, de uma sociedade, de uma escola e de um grupo de professores... Mas, nossos ombros são largos!

Nem sempre é fácil e parece caminharmos sozinhas!

Poderão nos perguntar as razões que nos levam a continuar e certamente não teremos uma resposta rápida, objetiva etc. Contudo, nenhuma conseguirá achar razões para abandonar! Hoje, refletindo sobre estas escolhas, olhando para esta trajetória, percebo que, apesar de todas as dificuldades, que só quem é da área entende, essa foi a escolha certa, do meu" número" pois,  não sei fazer outra coisa a não ser lutar pelo respeito às diferenças, igualdade de oportunidades, justiça ...Muito já caminhei contudo,  a sensação é de que muito mais tenho para andar. Muitos caminharam juntos,  alguns desistiram, outros mudaram de caminho...


Desejo um dia lindo, de profunda reflexão sobre o lugar que nos permitem ocupar neste momento político do país!

#UmaBoaLuta

💪👊😘

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