quinta-feira, 2 de julho de 2020

Boa noite!

Não sei se me sinto lisonjeada ou se compreendo as preocupações com o retorno das atividades escolares presenciais, como mais um movimento coletivo doentio da sociedade...

Os profissionais da educação vem denunciando, a algumas décadas, a negligencia estatal  com o  ensino básico em relação à estrutura física, carência de recursos humanos, desvalorização salarial dos profissionais da educação, insuficiência de recursos orçamentários assim como, de recursos tecnológicos para oferta do ensino formal e a manutenção das escolas. Premissas básicas, para a garantia da qualidade da educação, ofertada na rede pública estadual de ensino.

Porém, parece que somente agora, em meio à uma pandemia, a sociedade volta os olhos para as escolas. As redes sociais tornaram-se palco para os mais comoventes discursos, enaltecendo o papel dos professores e professoras, pedindo o retorno das atividades presenciais. Alguns posts menos tímidos, reconhecem as dificuldades na convivência familiar e no auxílio nas atividades remotas de seus filhos. De outro lado, discursos enganosos, de gestores irresponsáveis, propagandeando seus "feitos" para a garantia da educação em tempos de pandemia, num show de autopromoção e desconhecimento do real contexto educacional, social e econômico que os municípios gaúchos atravessam. Quem tem chão de sala de aula, sabe a real situação de cada aluno e sente uma lacuna intransponível, num curto período de tempo, entre o que se está sendo proposto e o que realmente poderá se efetivar. A sensação é de que estamos descolados dessa bonita história propagandeada pelo governo estadual.
Contudo, antes tarde do que nunca!
Recebemos com satisfação todos os cuidados e preocupações com as nossas escolas, tanto por parte da sociedade, como por parte do governo. Desde que permaneçam no período pós pandemia. Caso contrário, entenderemos como um rompante de desespero e saudades das babás de luxo!

Antes de promover inquietações, preciso assegurar alguns posicionamentos, para posteriormente, assegurar a compreensão dessa extensa reflexão.
- As tecnologias serão sempre, muitíssimo bem vindas, como ferramenta da aprendizagem, como suporte, apoio, às didáticas e metodologias de ensino dos professores. Quando utilizadas como ferramenta principal ou única, quando grande parcela dos estudantes não dispõe dos recursos tecnológicos, ela serve como ferramenta de exclusão, discriminação e acentuadora das desigualdades sociais latentes em nossa sociedade;
- A educação é direito fundamental, assegurado pela Constituição Cidadã, obrigatório e universal dos 04 aos 18 anos de idade, assegurados os níveis e modalidades escolares, de responsabilidade dos Municípios, Estados e União;
Ou seja,
- O Estado está transferindo sua responsabilidade com a educação escolar formal, para as famílias. Sem que estas tenham asseguradas as condições de ofertar uma aprendizagem significativa e de qualidade;
- Alguns milhares de alunos não dispõem dos recursos tecnológicos, alguns outros milhares não construíram ainda habilidades e competências para a utilização dos recursos tecnológicos de forma eficaz e suficiente;
- Outros tantos, não tem autonomia para a manipulação dos recursos tecnológicos e exploração dos ambientes virtuais de aprendizagem;
- Alguns outros, não são alfabetizados;
- Outros, não possuem um responsável com conhecimentos, letramento digital suficientes para auxiliá-lo no ambiente virtual;
- Alguns outros milhares não conseguem acesso à internet, nem à internet móvel, por morarem no interior, em distritos onde não há alcance dos serviços telefônicos ou de internet;
Contudo, parte significativa dos alunos das escolas públicas gaúchas vão ser penalizados por não disporem das condições de acesso aos recursos tecnológicos, utilizados como ferramentas principal, ou única, para aprendizagem escolar. Ao mesmo tempo, estas tornam-se requisitos para para ingresso e permanência na escolarização.
Estamos ratificando, contribuindo, sendo coniventes, quando nos submetemos e submetemos os alunos, a esta forma de aprendizagem excludente.
Os alunos com deficiência, com TEA e superdotados, pertencem (ou deveriam pertencer) à escola pública. Alguns, com as dificuldades listadas acima acrescidas as suas especificidades cognitivas, físicas, sensoriais, emocionais, etc.
O calendário escolar é flexível e não precisa acompanhar o calendário civil ou fiscal. O calendário precisa ser construído à partir de demandas locais, ou até mesmo particulares à uma única unidade escolar. Podendo ser suspenso, por tempo indeterminado e retomado com o alcance das condições apropriadas e seguras.
Não há necessidade de submetermos vidas ao risco de contágio, adoecimentos e óbitos em nossas comunidades escolares.
Quando retornarmos às atividades escolares presenciais, todos em segurança, será possível a realização de reformas e ampliações, o suprimento dos recursos humanos necessários, a implementação de modernos laboratórios inclusive, laboratórios de informática, formação/ letramento digital de profissionais e de alunos... Estaremos disponíveis, como sempre estivemos, para as melhorias pensadas por nosso governo.
Enquanto isso, sugiro que o governo se debruce em outras questões primeiras, como habitação, saneamento básico, condições sanitárias adequadas, água, luz, gás de cozinha, alimentação e vestuário suficientes e adequados à estação do ano, combate à violência doméstica, renda básica emergencial por quanto tempo se fizer necessário...
O COVID 19 traz à tona todas as carências e desigualdades sociais de nossa sociedade, já percebidas e combatidas pelas "soras". Que o COVID 19 nos deixe estampada as necessidades de políticas públicas que garantam os direitos fundamentais, inclusivas e abrangentes à toda a população, necessidade de geração de emprego e renda, devolvendo a dignidade e formas minimamente sustentáveis, salubres de existência. Que a escola seja palco do desabrochar de personalidades, onde a diversidade possa ser contemplada e valorizada, onde a qualidade seja buscada incessantemente, garantindo igualdade de oportunidades e reparação das desigualdades sociais.
Agradeço, às menções honestas em redes sociais e dispenso comentários motivados por outras intenções. 
Convido à todos, a se juntarem à defesa da escola pública de todos, para todos!
Ana Paula
👊😘


  

8 DE SETEMBRO - DIA INTERNACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO O dia 8 de setembro foi declarado dia internacional da alfabetização pela UNESCO em 26 de...