Entre hoje e amanhã, todas as cidades do RS receberão a chama crioula e darão início aos festejos da Semana Farroupilha 2011.
A história da Chama Crioula:
Num ambiente em que a sociedade negava hábitos, costumes e tradições
gauchescas, ressurge o sentimento de orgulho das coisas tradicionais
que, a rigor, naquele momento só tinham algum destaque quando a Brigada
Militar reverenciava a figura do General Bento Gonçalves da Silva, em
solenidade que realizava a cada 20 de setembro em frente ao monumento
erguido na Av. João Pessoa, em Porto Alegre.
No mês de agosto de 1947, alguns estudantes do Colégio Júlio de
Castilhos de Porto Alegre, liderados por João Carlos D’Ávila Paixão
Côrtes, fundaram um Departamento de Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio
Estudantil. O Departamento destinava-se a estimular o desenvolvimento
cultural, por meio de reuniões sociais recreativas. Era um movimento
estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos,
que levantava-se em favor das tradições. O objetivo era achar uma trilha
diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização;
reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a identidade da terra
gaúcha.
Aprovada a idéia, o Grêmio Estudantil do “Julinho”, enviou a Imprensa
da Capital, um comunicado, cujo primeiro parágrafo dizia: “O Grêmio
Estudantil Júlio de Castilhos, sentindo a necessidade da perpetuação das
tradições gaúchas, fundou, aliando aos seus já numerosos Departamentos,
o das Tradições Gaúchas, procurando assim, preservar este legado imenso
dos nossos antepassados, constituído do amor à liberdade, grandeza de
convicções representadas pelo sentimento de igualdade e humanidade”.
No Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio estudantil Júlio de
Castilhos decidiram realizar a “1ª Ronda Gaúcha”, que logo passaria a
ser chamada de Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma
programação que se estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947.
O programa previa o acendimento de um Candeeiro Crioulo, o primeiro
baile gauchesco que aconteceu no Teresópolis Tênis Club, no dia 20 de
setembro à noite, concursos de trajes regionais, palestras, concurso
literário e uma série de momentos eqüestres. A decoração do local era
feita de apetrechos campeiros (laços, guampas, pelegos, ninhos de
João-de-Barro) além de um fogo-de-chão, onde se esquentava água para
chimarrão e assava-se uma carne.
Participam como convidados especiais o jornalista e escritor
Manoelito de Ornellas e o desenhista de motivos campeiros e declamador
gauchesco, Amândio Bicca. A eles coube julgar os gaúchos e as prendas
mais tipicamente vestidos, sendo que a presença do ilustre historiador
Manoelito de Ornellas, no baile, causou forte impressão ao proferir um
inflamado discurso às causas regionalistas, manifestando sua crença
naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham alcançar. À beira de
um verdadeiro fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira, Barbosa
Lessa ventilou a idéia de fundar uma agremiação civil gauchesca.
Iniciava-se aí o tradicionalismo como força viva popular.
Esta Ronda Crioula foi, na verdade, a precursora da Semana
Farroupilha, oficializada somente 17 anos mais tarde, através da Lei
Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
Paixão Côrtes, que dirigia o Departamento foi procurar o Presidente
da Liga de Defesa Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma
centelha do Fogo Simbólico da Pátria no momento da sua extinção no dia 7
de setembro e transportá-la até o Colégio Júlio de Castilhos. Lá
acenderia um candeeiro típico, num altar cívico como parte das
comemorações da Ronda Gaúcha, no que foi autorizado.
Naquele ano de 1947, a Liga de Defesa Nacional, presidida pelo Major
Darci Vignoli incluiu na programação alusiva à Semana da Pátria, a
transladação dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro,
de Sant’Ana do Livramento para o Panteão da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia, em Porto Alegre. Para este acontecimento tão importante,
entendeu o Major Vignoli que era do maior significado cívico que a
guarda de honra fosse composta por uma representação de gaúchos
tipicamente trajados, que traduzisse a alma da terra e o espírito
farroupilha. Pessoas que lembrassem os tempos gloriosos dos nossos
estancieiros e suas peonadas, que enfrentaram durante 10 anos todo o
Império.
Diante da inexistência de uma representação com estas qualidades, o
Presidente da Liga solicitou ao Departamento de Tradições do “Julinho”
um piquete de gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do
grande Herói Farrapo.
Com muito custo Paixão conseguiu mais cinco jovens para a empreitada, totalizando oito componentes.
Estava formado o Piquete da Tradição, grupo esse que passaria para a
história, no 1º Congresso realizado em julho de 1954 em Santa Maria,
quando foi batizado como o “Grupo dos Oito”.
Próximo da meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João
Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado
Vieira, devidamente montados, aguardavam junto a Pira.
Chegando o momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram
chamados para a retirada da centelha, conforme haviam acordado. Paixão
Côrtes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa
embebida em querosene presa a ponta de um cabo de vassoura e
solenemente acendeu aquela que seria a primeira Chama Crioula. Dali, os
três cavaleiros, conduziram a galopito a centelha até o “Julinho”, onde
acenderam o Candeeiro Crioulo.
A Chama Crioula é o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade,
ardor, paixão, hospitalidade e coragem. Simboliza, enfim, a Tradição
Gaúcha. Representa o gaúcho idealizado no espírito heróico dos
Farroupilhas, com os ideais de justiça e liberdade, visando a
aproximação dos povos.
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